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Cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal

Somos um País rico em ditados populares e quase que encontramos um adequado a cada circunstância, seja ela qual for. Por exemplo, para resumirmos o essencial da Baja T.T. do Pinhal, podemos empregar estas velhas palavras da sabedoria popular: ‘Cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém’… João Ramos e Victor Jesus empenharam-se para levar a Toyota Hilux preta à vitória e o CPTT AM|48 ficou a ganhar com o resultado, que a meio da temporada reforça as oportunidades para as equipas apostadas em discutir o campeonato.

Adiada uma semana, devido ao risco de incêndios florestais na grande região do Pinhal do interior, a Baja T.T. do Pinhal por pouco não foi mesmo ‘por água abaixo’. Numa semana, as condições climatéricas passaram ‘do oito para o 80’, que é como quem diz, de uma situação de extremo calor, para chuvas intensas.

A ordem para não permitir a realização da prova quando previsto foi mal recebida por concorrentes e organizadores. A desilusão pela notícia, que chegou já com as verificações a decorrer, gerou discussões calorosas e parecia que ninguém acreditava na justificação da medida tomada pelo Ministro da Administração Interna.

Perigo de incêndio foi real e cancelamento justificou-se

Talvez porque a vontade de voltar a correr fosse tão grande, que todos os interessados terão ignorado os constantes alertas que, durante a semana, o porta-voz da Protecção Civil foi lançando quanto ao grau de risco de incêndio em grande parte do território continental de Portugal? Pela nossa parte, vimos que este era o desfecho mais provável e aguardámos serenamente que o cancelamento da prova fosse comunicado. E no sábado, ao mesmo tempo que a corrida deveria estar a realizar-se, deflagrou na região de Oleiros um incêndio que afectou parte do primeiro sector. E também por isso, podemos dizer ‘cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém’: as autoridades agiram com sensatez e cautela, como ficou demonstrado pelo incêndio que, aliás, se propagou e manteve activo até meio da semana.

Uma vez aceite a decisão do MAI – que era indiscutível – e passado o momento de choque, os responsáveis pela Escuderia Castelo Branco não perderam tempo a encontrar uma solução. E horas após o cancelamento, já tinham obtido o acordo das duas federações que tutelam a prova, a de automobilismo e karting, e a de motociclismo, para que a Baja T.T. do Pinhal pudesse ser disputada apenas uma semana depois do previsto. E o curioso é que não só foi, como na véspera se temeu novo golpe das ‘autoridades competentes’, pois a meteorologia levou a que fossem lançados alertas laranja – o segundo grau mais elevado, na escala de perigosidade – devido ao risco de chuvas torrenciais, que também afectavam a área da prova.

Neste caso, felizmente, o ‘dilúvio’ incidiu mais na orla costeira, que no interior. Chover, choveu, mas não o bastante para impedir a corrida, que acabou por decorrer com os pisos muito escorregadios e mais traiçoeiros que o esperado. E sabendo que este reagendar da prova do organizador albicastrense fez reduzir para apenas uma semana o intervalo para a quarta prova do CPTT AM|48, todos os pilotos com ambições quanto ao campeonato pesaram os riscos de um excesso fazer perder o resultado na Baja T.T. do Pinhal, mas comprometer igualmente a presença na Baja T.T. Capital dos Vinhos de Portugal. E como todos quiseram assegurar que vão mesmo correr em Reguengos de Monsaraz, dentro de dias, registaram-se apenas meia dúzia de abandonos e nenhum dos protagonistas do campeonato figurou entre os desistentes…

AS DIFICULDADES ACRESCIDAS DESTA PROVA, DITADAS PELA CHUVA, NEVOEIRO E LAMA, FIZERAM MIGUEL BARBOSA E PEDRO VELOSA ESCOLHER ENTRE UM SEGUNDO LUGAR FACILMENTE GARANTIDO, A UMA VITÓRIA PROVAVELMENTE DIFÍCIL: A HILUX DE RAMOS E JESUS REVELOU-SE FORA DE ALCANCE E CONTRARIAR ISSO IMPLICAVA CORRER RISCOS QUE PODIAM COMPROMETER TODO O CAMPEONATO…

Chuva, nevoeiro e lama tornaram a prova mais exigente

Porque numa prova decorrida com piso escorregadio, mercê da chuva abundante, os protagonistas do Campeonato de Portugal de Todo Terreno AM|48 não ignoraram que ‘o seguro morreu de velho’ e pensaram que ‘antes um pássaro na mão, que dois a voar’, pelo que em vez de arriscar, tomaram as devidas cautelas e salvaguardaram as suas máquinas para a prova seguinte, que terá lugar com apenas uma semana de intervalo.

E se tudo isto é certo, não deixa de ser verdade que João Ramos e Victor Jesus tiveram de andar muito depressa para se livrarem da perseguição de Miguel Barbosa e Pedro Velosa. As Toyota Hilux destas duas duplas foram os únicos carros a liderar, mas a pick-up preta, de Ramos, venceu os dois sectores selectivos e, claro está, a prova organizada pela Escuderia Castelo Branco!

Mas, logo à partida, quem se posicionou na liderança foi Miguel Barbosa, que em apenas 41,5 quilómetros já tinha ganho 36 segundos à Toyota de João Ramos, que à passagem pelo primeiro controlo estava empatado com o Mitsubishi Racing Lancer dos campeões nacionais em título: Tiago Reis e Valter Cardoso. Volvida mais uma trintena de quilómetros, quando a primeira parte do sector inicial foi interrompida, as posições cimeiras tinham-se invertido e João Ramos passou a comandar com 27 segundos de vantagem relativamente à Hilux de Miguel Barbosa.

E embora este duelo tenha deixado a expectativa de uma luta sem tréguas, João Ramos e Victor Jesus não voltaram a ceder a primazia, vencendo com uns ‘impressionantes’ três minutos e nove segundos de vantagem. Dizemos impressionantes, porque as provas do campeonato de todo terreno praticamente perderam o carácter de maratonas e têm-se transformado em ralis de sprint, que terminam com diferenças bem reduzidas. Mas, neste caso concreto, tal como João Ramos não cedeu, determinado que estava em conseguir esta vitória, Miguel Barbosa atacou no início de cada jornada, como que para ‘medir o pulso’ ao seu maior adversário, mas depois não manteve esse andamento ‘ao ataque’. E após a prova, Barbosa admitiu mesmo que “o segundo lugar serve perfeitamente os nossos interesses quanto à discussão do título e entendemos que era mais importante terminar assim, que arriscar ficar pelo caminho”.

A propósito do campeonato, convém lembrar que Miguel Barbosa e Pedro Velosa não estiveram presentes na prova inaugural do CPTT AM|48, em Beja, pelo que não estão em posição de desperdiçar qualquer resultado: contabilizarão os pontos que possam ganhar nas três provas que restam. O mesmo se aplica a João Ramos e Victor Jesus, que desistiram na primeira prova do ano. E a meio da temporada, estas duas duplas somam ambas uma vitória e um segundo lugar. Todavia, têm dois pontos de diferença, pois enquanto na Baja T.T. do ACP Miguel Barbosa acrescentou aos 25 pontos do primeiro lugar, mais quatro, pela vitória no prólogo e nos três sectores selectivos, João Ramos exerceu o mesmo domínio absoluto na Baja do Pinhal, mas como não houve prólogo e o percurso se dividia apenas em dois sectores, não ganhou senão dois pontos suplementares.

TRÊS PNEUS FURADOS E UM DESPISTE FIZERAM TIAGO REIS E VALTER CARDOSO ACUMULAR ATRASO SOBRE ATRASO NA BAJA T.T. DO PINHAL. APESAR DESTA INCRÍVEL ODISSEIA, OS CAMPEÕES NACIONAIS EM TÍTULO GARANTIRAM O TERCEIRO POSTO FINAL E COM ISSO REFORÇARAM A LIDERANÇA DO CPTT AM|48

A incrível ‘odisseia’ de Tiago Reis e Valter Cardoso

Terceiros classificados na prova organizada pela Escuderia Castelo Branco, Tiago Reis e Valter Cardoso puderam reforçar a liderança do campeonato, onde agora somam 58 pontos, mais nove pontos que a dupla Barbosa/Velosa. Para os campeões nacionais em título, este foi um resultado muito válido, a somar à vitória em Beja e ao quarto lugar em Santiago do Cacém, nas duas provas anteriores.

Para subirem ao pódio, tiveram de suar bastante. Por exemplo, só a trocar os três pneus que furaram – dois no início da primeira etapa e outro na última – fartaram-se de trabalhar. E de perder tempo: pelo menos cinco minutos com as três paragens e, ainda assim, “o primeiro dos furos foi trocado em tempo recorde, pois entre parar e voltarmos a arrancar, demorámos um minuto e 24 segundos”, contou-nos Valter Cardoso. Alguns quilómetros depois, tiveram o segundo furo “e a troca também foi rápida, mas demorámos um pouco mais” – e caíram do segundo/terceiro lugar, pois chegaram a estar empatados com João Ramos, para a oitava posição.

Na segunda parte da primeira etapa, acabaram por conseguir recuperar quatro lugares, apesar de nova paragem, de quase um minutos, como nos conta, uma vez mais, o navegador de Tiago Reis: “Vínhamos a atacar, empenhados em recuperar o atraso, mas estava imenso nevoeiro e há uma curva para a esquerda que não vimos como era e batemos forte contra um muro. O impacto foi tal que as rodas de trás levantaram-se no ar e as duas portas abriram-se. Ao perceber que não íamos conseguir descrever a curva, o Tiago agarrou-se tanto ao volante, que até ficou torcido! Saímos para ver os estragos e percebemos que dava para continuar, mas com tudo isso foram perdidos mais quase um minuto”.

As dores, “sobretudo no pescoço”, chegaram mais tarde, mas “à cautela, fomos fazer exames já depois de regressarmos a casa e, felizmente, não passaram de dores musculares”, completou Valter Cardoso. Domingo de manhã, na segunda etapa, o Mitsubishi Racing Lancer dos campeões voltou a parar devido a um furo. “Foi do lado do Tiago e sai do carro a correr, mas não levei logo a máquina para tirar as porcas e essa confusão fez-nos perder no total mais quase dois minutos”. Considerando todas estas desventuras, no final detinham sete minutos e 51 segundos de atraso relativamente aos vencedores, perdendo quatro minutos e 42 segundos para Barbosa/Velosa.

O CAN-AM MAVERICK DOS IRMÃOS ALEXANDRE E PEDRO RÉ VENCEU PELA TERCEIRA VEZ CONSECUTIVA O GRUPO T3. E APESAR DE CONDICIONADOS POR PROBLEMAS COM OS TRAVÕES, DISCUTIRAM FEROZMENTE O TERCEIRO LUGAR ABSOLUTO. NO FINAL, FORAM QUARTOS, MAS ESTE FOI O MELHOR RESULTADO COM O PEQUENO T3…

Terceira vitória consecutiva no grupo T3 para os irmãos Ré

Já bem perto do final do percurso, o Mitsubishi de Tiago Reis ainda conseguir ultrapassar o Can-Am Maverick dos irmãos Alexandre e Pedro Ré, a quem coube o quarto posto absoluto. Foi o melhor resultado em três provas, não contando com a terceira vitória consecutiva no grupo T3. Alexandre Ré, antes da prova arrancar, estava confiante que este traçado era o menos penalizante para o Can-Am, dadas as limitações de velocidade destes veículos, que por imposição da FIA não podem ultrapassar os 120 km/h.

Ao terminarem no terceiro lugar a primeira etapa, com menos de quatro minutos de diferença para os líderes, os dois irmãos demonstraram que estavam certos. Mesmo assim, “não ficámos contentes, pois instalámos uma protecção de acrílico à frente, convencidos que isso nos reduziria o sacrifício de andar à chuva com uma viatura sem janelas, mas rapidamente ficou coberta de lama e tapava-nos a visão. Arrancámo-la mal terminou o primeiro sector e bastou vermos bem o caminho para que no segundo sector pudéssemos recuperar e terminar a primeira etapa em terceiros”, explicou Alexandre Ré.

Todavia, no segundo dia o percurso tornou-se cada vez rápido e não só as limitações de velocidade voltaram a ser um factor condicionante para a dupla que aposta no grupo T3, “como ainda rolámos mais de uma centena de quilómetros sem travões”, o que os atrasou progressivamente. De qualquer modo, o balanço de Alexandre e Pedro Ré é positivo pois, como nos contou o piloto, “termos conseguido colocar o ‘caranguejo’ no meio dos ‘aviões’ foi muito bom!”

Mas, por pouco, não foi um pouco menos bom, digamos assim: na última parte da etapa final o Can-Am já estava a ser alcançado pelo Mitsubishi HRX Ford de Manuel Correia e Miguel Ramalho, que seguiam empenhados em alcançar o quarto posto absoluto e arriscaram um pouco para isso. E, muito provavelmente, tê-lo iam conseguido se não tivessem batido praticamente no final, partindo uma manga de eixo com a pancada, que deixou o carro sem condições de prosseguir.

NA SEGUNDA ETAPA, PEDRO DIAS DA SILVA E JOSÉ JANELA DESFORRAM-SE DOS PROBLEMAS QUE AFECTARAM A FORD RANGER NA ETAPA DE ABERTURA. O QUINTO POSTO FINAL FOI UMA ÓPTIMA RECOMPENSA!

A longa recuperação de Pedro Dias da Silva e José Janela

A desistência de Manuel Correia, a última a registar-se, fez descer para 19 o número de equipas do CPTT AM|48 à chegada (mais as três equipas concorrentes à Taça de Portugal) e tornou possível que todos os que estavam posicionados além do quarto lugar pudessem subir uma posição.

E começando pela Ford EXR05 Proto de Pedro Dias da Silva e José Janela, esta dupla conseguiu subir um lugar entre cada uma das últimas três secções da segunda etapa: partiram em oitavos e no CP3, após os 41,5 quilómetros iniciais, já estavam a apenas nove segundos do Mini Paceman Proto de Henrique Silva e Rui Gomes. Volvidos mais 34 quilómetros, tinham cedido seis segundos a Henrique Silva, mas o atraso do BMW EVO X1 de Alexandre e Rui Franco ofereceu-lhes a oportunidade de subir ao sétimo lugar; e no CP5, cumpridos que estavam 115,18 dos 160,06 quilómetros a etapa, a Ford de Dias da Silva já era a sexta classificada, ao adiantar-se 56 segundos face ao Mini do piloto da região de Leiria.

Sétimos, depois de uma prova tranquila, em que a maior preocupação foi preservar a Fiat Fullback Proto “para não pôr em risco as participações seguintes”, Nuno Matos e Joel Lutas sentiram-se satisfeitos com o resultado, “tendo em conta as adversidades que enfrentámos, sobretudo no primeiro dia, mas também a longa paragem, de vários meses sem correr”, conforme declarou o piloto de Portalegre. Discretos, mas sempre à chegada, pela terceira vez consecutiva, os espanhóis Luís Recuenco e Victor Rodriguez não viram o seu Mini ‘X-Raid’ batido pelo Yamaha Interceptor dos belgas De Ghislain e Philippe Adelin: os 14 segundos que separaram as duas equipas, que terminaram no oitavo e nono lugares, respectivamente, foram a diferença mais reduzida registada à chegada entre duas das 19 equipas classificadas!

A encerrar o lote dos dez primeiros colocou-se outro Mini, não um carro construído na Alemanha, nos Ateliers da X-Raid, mas sim em Portugal e nem por isso menos válido: que o digam César e Tânia Sequeira, pai e filha, que tiveram neste resultado bons motivos para celebrar.

JOÃO FERREIRA E DAVID MONTEIRO COMEÇARAM E TERMINARAM A BAJA T.T. DO PINHAL NA FRENTE DO GRUPO T2. TODAVIA, AO LONGO DA PROVA ALTERNARAM NO COMANDO COM A ISUZU D-MAX DE GEORGINO PEDROSO E CARLOS SILVA…

Duelo renhido pela vitória no grupo T2

Animada foi a discussão pela vitória no grupo T2. A Isuzu D-Max de Georgino Pedroso e Carlos Silva concluiu a primeira etapa na frente, depois de se terem adiantado ao Nissan Pathfinder de João Ferreira e David Monteiro, que também passaram pelo comando e que só o viriam a recuperar já na parte final da segunda etapa. Então, a Isuzu começou a acusar problemas com os travões e isso permitiu aos jovens Ferreira e Monteiro acelerar um pouco mais e tirar partido das dificuldades dos campeões nacionais de T2 para chegarem ao primeiro lugar e averbar nova vitória, com dois minutos e 14 segundos de avanço.

Neste grupo voltaram a registar-se apenas três participações e o terceiro lugar esteve sempre entregue a João Franco e Pedro Inácio, cuja Nissan Navara D22 terminou a quase três quartos de hora do melhor T2, marcando pontos pela terceira vez em três provas, o que lhes permitiu reforçar a liderança do campeonato.

COM O TRIUNFO NO GRUPO T8, JOSÉ MENDES E JORGE BAPTISTA ADIANTARAM-SE NA FRENTE DO CAMPEONATO RESERVADO AOS VEÍCULOS COM HOMOLOGAÇÃO MAIS ANTIGA

Bem mais solitária foi a vitória conquistada por José Mendes e Jorge Baptista no grupo T8. À partida, os pilotos da Mitsubishi L200 tinham mais três adversários e no final da primeira etapa ocupavam a segunda posição, atr do Porsche Cayenne Proto de Michael Braun e Ivo Santos; todavia um problema eléctrico deixou esta dupla parada no parque fechado, à partida da segunda etapa, deixando o caminho livre para a vitória de José Mendes, que foi 14º em termos absolutos e teve como maior recompensa a ascenção ao primeiro posto do campeonato reservado aos veículos do grupo T8.

Na Taça de Portugal, entre um conjunto de três equipas, a primazia começou por ter como protagonistas Tiago Canêdo Santos e António Dias: num Land Rover Defender 90 TD5, dominaram a primeira etapa. Na segunda, contudo não foram felizes e o comando alternou entre o Nissan Terrano II de João Paulo Oliveira e Pedro Cação, e a Nissan Pick-Up D21 de Joel Marrazes e José Patrício, que saíram vencedores por mais de cinco minutos de vantagem!

Texto: Alexandre Correia Fotos: D.R.

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