
O Circuito Internacional de Vila Real é um dos grandes momentos altos da temporada do Campeonato de Portugal de Velocidade, sendo antecipado com entusiasmo por todos os pilotos, sobretudo para os novatos, que em muitos casos, terão um dos maiores desafios das suas carreiras.
A principal competição de Velocidade de Portugal, assim como Iberian Supercars e o Supercars España, está habituada a ter bastante público nos seus eventos, mas o circuito transmontano é um caso aparte.
Vila Real, tal como a região onde se insere, é uma cidade que abraçou o automóvel e o automobilismo praticamente desde o nascimento destes, tendo albergado a primeira prova de desporto motorizado 1931.
É, portanto, com naturalidade que ao longo do evento que se celebra este ano nos dias 4, 5 e 6 de Julho as bancadas estejam a abarrotar, assim como janelas, varandas, telhados. É um espetáculo dentro de outro espetáculo a forma como a paixão pelo automobilismo se manifesta nas ruas da cidade transmontana e isso não passa despercebido aos pilotos, mesmo àqueles que nunca correr no traçado da ‘Bila’. “Vila Real é sinónimo de tradição, paixão e desafio. Competir lá é uma honra e uma responsabilidade que encaro com grande entusiasmo”, começou por dizer Ruben Vaquinhas, piloto que compete pela Gianfranco Motorsport aos comandos de um Aston Martin Vantage AMR GT4 que divide com Pedro Bastos Rezende, prosseguindo: “é uma das etapas mais marcantes da temporada: o lendário Circuito de Vila Real. Para mim, esta prova representa muito mais do que uma corrida. É um verdadeiro marco na minha jornada como piloto de GT4”.
O italiano Luca Staccini corre pela primeira vez este ano nas provas ibéricas, mas já há algum tempo que ambicionava competir na prova transmontana. “Estou incrivelmente entusiasmado por tomar parte na etapa de Vila Real. Ouvi falar pela primeira vez deste circuito através do WTCC. Só competi uma vez num circuito citadino, uma prova de ‘time attack’ no MotoFest Coventry, em 2024, mas foi num carro completamente diferente. Muito embora tenha sido uma experiência muito engraçada, sinto que isto será um desafio com um nível completamente diferente, mal posso esperar”, afirmou o piloto que divide um Ginetta G55 com a britânica Gracie Mitchell, também ela uma estreante na prova.
No entanto, existo o outro lado – a exigência de um traçado que é muito selectivo e que castiga implacavelmente qualquer erro.
Os estreantes na inclemente pista vilarealense têm uma noção do que os esperam nos próximos dias 4, 5 e 6 de Julho, mas só quando entrarem pela primeira vez nas ruas da pista transmontana terão uma ideia clara do tamanho do desafio que têm pela frente.
Ruben Vaquinhas, que lidera com o seu colega de equipa a classificação da divisão GT4 Am, deixa transparecer todo respeito que nutre pelo traçado de Vila Real: “correr num circuito urbano com tanta história é, simultaneamente, motivo de orgulho e de respeito. Por um lado, existe aquele sentimento inevitável de receio – o traçado estreito, os muros próximos e a exigência constante não deixam margem para erro. Mas, por outro lado, é impossível não sentir uma emoção única ao saber que estou a fazer parte da história de um dos circuitos mais icónicos do automobilismo português”.
Uma pista com a selectividade do único circuito citadino português em actividade é elevada, sendo maior para pilotos que nunca lá competiram. O italiano da Tockwith Motorsports tem vindo a tentar suprir esse desconhecimento de todas as formas que pode para poder chegar à pista da ‘Bila’ o mais confortável possível. “Para me preparar para o evento, tenho feito muitas horas de simulador para ter uma sensação geral do circuito. Tenho também vindo a analisar vídeos ‘onboard’ com a minha ‘coach’, a Jemma (Moore). Não é a mesma coisa que estar realmente no circuito, mas ainda assim, é um bom treino, sobretudo por que nunca lá corri e tenho ainda uma experiência limitada nas corridas de GT”, reconheceu Luca Staccini.
Roberto Faria, o líder do Campeonato de GT com o seu colega de equipa, Mathieu Martins, é também ele um estreante na pista transmontana. Porém, o brasileiro competiu no Campeonato FIA de Fórmula 3 em 2023 e revela que se apoiará na experiência que adquiriu no pista de Monte Carlo, outro reverenciado traçado desenhado nas ruas de uma cidade, para enfrentar o desafio do circuito citadino português. “A experiência de ter pilotado um Fórmula 3 no Mónaco ajuda-me muito a encarar uma corrida como a de Vila Real com o Aston Martin Vantage AMR GT4. São dois circuitos citadinos extremamente desafiadores, com margens de erro mínimas, muros muito próximos e condições de pista muito variáveis. Portanto, toda aquela precisão e foco que o Mónaco exige acabam por ser muito úteis em Vila Real”, frisou o piloto da Aston Martin Racing Academy que enverga as cores da Racar Motorsport.
O brasileiro de 21 anos vai mais longe, apontando que a inteligência e controlo emocional poderão ser de importância capital, mais que a velocidade pura. “Uma coisa que aprendi no Mónaco foi a importância de encontrar o ritmo certo, aquele ‘flow’ nas voltas, mesmo com um carro tão ágil como o F3. No GT4, claro que o carro é mais pesado, tem ABS, controle de tracção, mas o conceito de ser suave, preciso e inteligente nas decisões é o mesmo. Além disso, correr no Mónaco exige muito controlo emocional — está-se sempre sob pressão, sabendo que qualquer erro pode acabar com a corrida. Isto preparou-me bem para encarar Vila Real, que também tem esse clima intenso, adeptos muito próximos, muito pouco espaço para errar”, apontou Roberto Faria, que concluiu: “no fim das contas, pilotar um carro num circuito citadino é muito mais do que acelerar – é saber medir o risco, tomar decisões inteligentes e manter a consistência. Tudo que aprendi no Mónaco dá-me uma base muito sólida para Vila Real”.
São estes desafios que tornam em heróis os pilotos que os dominam, algo que é compreendido pelas gentes de Trás-os-Montes, que os respeitam, percebendo os riscos que cada um deles abraçam para poder ir mais depressa ao longo das vinte e quatro curvas da pista vilarealense.
A natureza da pista e o evento em si proporcionam uma ligação mais forte entre o público e os ‘homens do volante’, algo pelo qual os pilotos anseiam, como explica Luca Staccini: “estou especialmente ansioso pela parada de quinta-feira e o encontro com os adeptos e restantes pilotos. Sou uma pessoa que gosta de contacto e é sempre agradável ter um momento para conversar, quando temos tempo. Ficarei muito feliz por oferecer autocolantes, tirar fotos e conversar com toda gente que aparecer para dizer ‘olá’. Como sempre, espero poder oferecer um bom espetáculo para todos, tanto para os que forem à pista como os que assistirem às corridas através da televisão”.
Para além de um enorme desafio, os pilotos estreantes esperam também bancadas cheias e de um contacto próximo com o público, mas todos aqueles que não poderão deslocar-se à pista transmontana terão a oportunidade de assistir às duas provas de cinquenta minutos na DAZN Portugal e DAZN España, no canais de YouTube da Race Ready, em Espanhol, da Motorsport Television Deutschland, em Alemão, e da Parc Férme TV, em Italiano.