
Portugueses brilham, estrangeiros elevam o ritmo e o Mundial de Rally-Raid segue para Marrocos com tudo em aberto
A segunda edição do bp Ultimate Rally Raid Portugal transformou as estradas de terra do Alentejo, Ribatejo e Estremadura Espanhola no epicentro do rally-raid mundial, reunindo pilotos de topo, equipas históricas e uma nova geração de portugueses prontos a escrever capítulos inéditos no desporto automóvel. Entre 17 e 22 de Março de 2026, o evento regressará, mas a edição de 2025 já deixa marcas profundas, consagrando campeões e prometendo batalhas renhidas até à última prova do Campeonato do Mundo (W2RC).
Portugal no mapa do “Dakar europeu”
A “presença” simbólica do “Dakar” em Portugal foi mais do que uma mera transposição do espírito do rally original: foi palco para um feito histórico no desporto nacional. Bernardo Oliveira, natural de Fafe e a residir em Boston enquanto tira um mestrado em economia, tornou-se Campeão do Mundo de Navegadores Rally-Raid na categoria SSV, aos 20 anos. Sentado ao lado de Alexandre Pinto, Oliveira subiu ao lugar mais alto do pódio com o Padrão dos Descobrimentos como cenário, conquistando um título inédito para Portugal. “Honestamente, ainda não caí na realidade. É a primeira época no campeonato do mundo e estou feliz por ser campeão em Portugal. Acredito que vamos fechar o título de pilotos em Marrocos”, afirmou o jovem, visivelmente emocionado.

O seu piloto, Alexandre Pinto, ficou às portas do título mundial, podendo vir a ser declarado campeão caso se confirme a ausência do italiano Enrico Gaspari na última prova da época, em Marrocos. Este cenário sublinha o potencial da dupla portuguesa e reforça o papel de Portugal como berço de novos talentos do todo-o-terreno.
Uma prova de emoções fortes e talento nacional em destaque
Ao longo de cinco dias e 1.119 quilómetros, o bp Ultimate Rally Raid Portugal foi pródigo em mudanças de liderança, dramas e finais ao cronómetro, com os carros a disputar cada segundo. As estradas encheram-se de público, aplaudindo tanto as estrelas internacionais como os portugueses, que demonstraram estar à altura dos melhores.

Nos automóveis, o duelo entre Lucas Moraes (Brasil) e Henk Lategan (África do Sul), ambos ao volante do Toyota Hilux T1+ Evo, terminou com apenas 53 segundos de diferença após mais de 12 horas de prova. Sébastien Loeb (França, Dacia Sandrider) fechou o pódio, confirmando que os estrangeiros mantêm o ritmo elevado, mas a vitória teve pronúncia portuguesa graças ao desempenho de Moraes, que não escondeu o orgulho: “Gosto muito desta prova e é muito bom vencer e poder falar português. O carro não teve qualquer problema e isso permitiu-me ser rápido e escolher uma boa estratégia. No final, a equipa pediu para reduzir o andamento, mas eu também tenho hipótese de vencer o campeonato e decidi manter o ritmo. Enquanto tiver chance de ganhar não vou tirar o pé”, declarou, sublinhando ainda a excelência da organização: “Parabéns à organização, que montou uma prova incrível”.
Henk Lategan, segundo classificado, também destacou o ambiente vivido: “Tentei marcar o máximo de pontos para o campeonato. A prova teve bons pilotos e o resultado deixa tudo em aberto para a luta pelo título em Marrocos”. Sobre os desafios enfrentados, partilhou: “Tivemos uma semana realmente interessante, boas batalhas, muita diversão, mas também muitos altos e baixos. Os palcos eram lindíssimos, as pessoas incríveis, e havia sempre público a assistir. Não foi o resultado totalmente desejado, tivemos alguns problemas, principalmente no segundo dia com o eixo de transmissão, e alguns furos, mas saímos com bons pontos para o Mundial, o que não é mau”.

João Ferreira, português ao volante do Toyota Hilux T1+ Evo, prometeu espectáculo e cumpriu, vencendo o último sector selectivo com uma vantagem impressionante sobre nomes como Nasser Al Attiyah e Carlos Sainz. “Senti-me muito bem com o carro. É sempre bom vencer um sector selectivo e mostrar o nosso ritmo perante os melhores pilotos do mundo. Não era o que esperava, mas estou contente com o resultado da etapa. Agora é pensar em Marrocos”, afirmou, após a segunda vitória em etapas no W2RC, Ultimate.
Motos, Challenger e SSV: domínio luso e consagração internacional

Nas motos, Daniel Sanders (KTM 450 Rally) foi o grande vencedor, com o australiano a somar o título de pilotos e a liderar uma prova marcada por ritmo elevado e grande competitividade. Tosha Schareina (Honda CRF 450 Rally) ficou a 3m40s e Luciano Benavides (KTM 450 Rally) a 12m41s, num pódio internacional. O português Bruno Santos (Husqvarna FR450 Rally) terminou em 8º, sendo o melhor nacional.

Na categoria Challenger, Gonçalo Guerreiro (Taurus Evo Max), que já tinha conseguido um brilhante segundo lugar no Dakar 2025, impôs-se em Portugal, vencendo três das cinco etapas e terminando em 6º da geral, à frente de vários carros da categoria Ultimate. “Foi uma boa prova, diverti-me, apesar de alguns contratempos. É um grande resultado”, referiu o piloto, mostrando o potencial dos portugueses.
Os SSV foram palco de domínio luso, com nove portugueses no top 10. João Dias (Polaris RZR) venceu a categoria com uma confortável vantagem de 18 minutos, reforçando o orgulho nacional: “É um orgulho enorme vencer esta categoria em Portugal. O carro esteve sempre ótimo e permitiu-me atacar”, referiu, já com o olhar posto no Dakar 2026. Alexandre Pinto (Polaris RZR) ficou em segundo, dando um passo decisivo para o título mundial: “Fomos um pouco conservadores, mas ainda assim ficámos em segundo lugar, marcámos o máximo de pontos para o campeonato e estamos muito perto de o conquistar”.
No final, Bernardo Oliveira garantiu matematicamente o título de navegadores em SSV devido à troca de navegador por parte de Enrico Gaspari. Na Challenger, Valentina Pertegarini (Argentina) sagrou-se campeã mundial de navegadores.
Momentos decisivos e as vozes da corrida

A última etapa dos automóveis foi uma autêntica corrida sprint de 103 quilómetros entre Lucas Moraes e Henk Lategan, separados por apenas 34 segundos à partida. Moraes “voou” para a sua primeira vitória no W2RC, resistindo a ordens de equipa e assumindo o risco, como referiu nas suas declarações: “Acabei o rally Raid Portugal, foi uma prova dura, mas estou feliz pela equipa, que fez 1-2. O carro esteve excelente. Não é fácil não seguir as ordens da equipa, mas somos pilotos e ainda temos chance. Obrigado Brasil, somos campeões”.
Nasser Al-Attiyah (Dacia Sandrider), líder do campeonato, terminou em quinto e comentou: “Estamos felizes por acabar o rally de Portugal. Os primeiros dias foram complicados com problemas nos travões, mas estamos a liderar o mundial e isso é bom para Marrocos. Estou também contente pelo Gonçalo, que venceu a T3 com a Nasser Racing. Foi incrível, obrigado a todos”.
Já Saood Variawa (Toyota Gazoo Racing) fez um balanço positivo apesar dos contratempos: “No geral, um rally decente para nós. Pena pelo terceiro dia, mas aprendemos com os erros. Tivemos bom ritmo e resultados aceitáveis, a equipa fez um trabalho incrível”.

Sébastien Loeb, terceiro classificado, preferiu não arriscar na última etapa: “Fiz uma etapa final sem correr riscos e aproveitei para ver a paisagem. Tínhamos velocidade para fazer melhor, mas os problemas dos dias anteriores ditaram o resultado”.
Classificações finais e impacto no campeonato mundial
Nos automóveis, o pódio foi composto por Lucas Moraes/Armand Monleon (Toyota Hilux T1+ Evo, 12h13m05s), Henk Lategan/Brett Cummings (Toyota Hilux T1+ Evo, a 53s) e Sébastien Loeb/Edouard Boulanger (Dacia Sandrider, a 10m05s). Gonçalo Guerreiro/Bruno Jacomy (Taurus Evo Max) foram os melhores portugueses, em sexto e primeiros na Challenger. João Dias/Rui Pita (Polaris RZR) venceram os SSV, a 43m33s dos líderes.
Nas motos, Daniel Sanders triunfou (KTM 450 Rally, 12h39m39s), seguido de Tosha Schareina (Honda CRF 450 Rally, a 3m40s) e Luciano Benavides (KTM 450 Rally, a 12m41s). Bruno Santos destacou-se como melhor português, em 8º.
No campeonato de pilotos de automóveis, Nasser Al Attiyah lidera com 140 pontos, seguido de Henk Lategan (131) e Lucas Moraes (130), ficando a decisão para Marrocos. No campeonato de construtores, o domínio pertence à Toyota Gazoo Racing W2RC (397 pontos), seguida da Dacia Sandrider (287) e Ford M-Sport (217).
Rumo a Marrocos: a próxima batalha do W2RC
Com o bp Ultimate Rally Raid Portugal encerrado, a caravana do W2RC prepara-se para a etapa decisiva no Rallye du Maroc, que começará a 10 de Outubro, em Fez, com as verificações administrativas e técnicas e o prólogo marcado para dia 12. O título mundial, tanto de pilotos como de navegadores, está em aberto, prometendo mais emoção e rivalidade.
A edição de 2025 do bp Ultimate Rally Raid Portugal reforça o papel do país como palco de grandes eventos internacionais, capaz de atrair os maiores nomes do rally-raid e de revelar talentos nacionais. A consagração de Bernardo Oliveira, o desempenho sólido de Gonçalo Guerreiro e João Dias, e o espectáculo proporcionado por João Ferreira mostram que Portugal está pronto para competir ao mais alto nível. Ao mesmo tempo, os estrangeiros elevaram o desafio, tornando cada vitória ainda mais significativa. Com Marrocos à vista, a expectativa mantém-se: quem será o próximo campeão mundial?