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Loeb vence no caos marroquino, João Ferreira à beira do pódio e Moraes é campeão do mundo

O Rallye du Maroc 2025, última ronda do World Rally-Raid Championship (W2RC), ofereceu um desfecho dramático e imprevisível, tanto na categoria Ultimate como na Challenger. Com penalizações tardias, avarias mecânicas e reviravoltas emocionantes, a prova marroquina tornou-se palco de consagrações e frustrações, encerrando a temporada com intensidade digna de um épico desportivo.

Sebastien Loeb com o novo Campeão do Mundo de Navegadores – Edouard Boulanger, grandes vencedores do Rallye du Maroc 2025

Na categoria Ultimate, Sébastien Loeb (Dacia Sandrider T1+) confirmou a liderança que manteve desde os primeiros dias e venceu a prova com um tempo total de 15h11m40s. Esta é a sua segunda vitória numa ronda do W2RC, depois do triunfo no Andalucía Rally em 2022. O francês resistiu à pressão dos adversários e manteve a consistência até à meta, mesmo num último dia marcado por incertezas e penalizações.

O grande drama surgiu na luta pelo título mundial entre Nasser Al-Attiyah (Dacia Sandrider T1+) e Lucas Moraes (Toyota GR DKR Hilux T1+). Al-Attiyah cruzou a meta em terceiro lugar, o que lhe garantiria o quarto título mundial. No entanto, uma penalização de uma hora por não parar num ponto obrigatório atirou-o para a 13.ª posição, abrindo caminho para Moraes se sagrar campeão do mundo.

Lucas Moraes é o novo Campeão do Mundo de Rally Raid

Visivelmente emocionado, Moraes celebrou o feito com palavras sentidas:
“Primeiro de tudo, estou muito feliz por terminar este rally, por entregar esta vitória à Toyota e por ter lutado com os meus dois ídolos, Nasser e Seb. Vi-os na televisão durante anos, especialmente quando o Dakar era na América do Sul. Claro que é complicado quando tudo se decide por penalizações e regulamentos, mas lutámos até ao fim. Somos campeões do mundo e estou muito feliz por entregar isto ao Brasil. É uma honra representar o meu país.”

O brasileiro destacou ainda a consistência da sua temporada: “Depois do Dakar, fizemos quatro pódios seguidos. Vencemos o último rally em Portugal. Os resultados foram 2-3-1-2. Mostra velocidade, mostra consistência. Acho que merecemos.”

Entre os destaques lusos, sobressai a prestação notável de João Ferreira (Toyota GR DKR Hilux T1+), que esteve em excelente forma ao longo de toda a prova. O piloto português terminou o Rallye du Maroc na quarta posição, a escassos quatro segundos do pódio, atrás de Joan Nani Roma. Ferreira foi terceiro na quinta etapa, apenas um segundo atrás de Ekström, e demonstrou uma velocidade consistente e competitiva, consolidando-se como uma das grandes promessas do rally-raid internacional. A sua performance confirma o crescimento da escola portuguesa nesta disciplina e deixa antever uma temporada de 2026 com ambições renovadas.

João Ferreira e Filipe Palmeiro mostraram que há que contar com eles na lutas pelas vitórias

A Power Stage, com apenas 30,94 km, foi vencida por Nani Roma (Ford Raptor T1+), seguido por Seth Quintero (Toyota) e Loeb. Já a longa especial de 215,92 km foi dominada por Quintero, com Ekström (Ford) e Ferreira logo atrás. Ferreira, que tem vindo a afirmar-se como um dos pilotos mais rápidos da nova geração

Henk Lategan (Toyota Hilux), estreante no Rallye du Maroc, enfrentou dificuldades técnicas, mas valorizou a experiência adquirida:
“Foi uma corrida agridoce. Perdemos a hipótese de lutar pelo campeonato quando partimos o diferencial e tivemos de fazer 100 km de dunas com tracção dianteira. Mas ganhámos muita experiência, fizemos todos os quilómetros e testámos bem o Hilux. É positivo para o futuro.”

Sobre a Power Stage e os waypoints, Lategan foi claro na sua frustração:
“Não sei exatamente o que aconteceu. Muitos pilotos falharam waypoints, nós também. Eram muito pequenos e difíceis de encontrar. Ninguém sabe bem o que se passou, vamos ter de esperar pelas decisões da FIA.”

Na categoria Challenger, o espanhol Pau Navarro (Taurus T3 Max) venceu o Rallye du Maroc com 2m30s de vantagem sobre o argentino Nicolás Cavigliasso, que com este resultado se sagrou campeão mundial da categoria. Navarro, por sua vez, tornou-se vice-campeão.

A saudita Dania Akeel, que tinha vencido as etapas 3 e 4, viu as suas aspirações ao pódio ruírem ao não conseguir terminar a longa especial da manhã. Ainda assim, recuperou forças e venceu o Power Stage, demonstrando resiliência e velocidade.

O quinto dia foi também palco de uma intensa disputa entre os neerlandeses Puck Klaassen (GRally GECKO) e Paul Spierings. Klaassen terminou o dia em terceiro e ultrapassou Spierings na classificação geral, garantindo o terceiro lugar na Challenger.

Na categoria SSV, dedicada aos veículos de produção ligeiros, o último dia do Rallye du Maroc foi marcado por uma imprevisibilidade semelhante à das classes superiores. O argentino Jeremías González Ferioli (Can-Am Factory Team), que liderava com quase 15 minutos de vantagem, viu o seu sonho ruir ao perder mais de 18 minutos na longa especial e receber uma penalização adicional de 2m10s. Nem a vitória na Power Stage foi suficiente para recuperar — terminou em segundo, apenas 11 segundos atrás do vencedor.

O triunfo coube ao chileno Francisco “Chaleco” López Contardo (Can-Am Factory Team), veterano e figura lendária da disciplina, que soube capitalizar os erros dos adversários e gerir a pressão até ao fim. O norte-americano Hunter Miller, também da Can-Am, foi penalizado em seis minutos na última etapa e caiu para terceiro, a apenas três minutos do topo.

A Can-Am Factory Team dominou por completo a categoria SSV, vencendo quatro das cinco etapas e ocupando os três primeiros lugares da classificação final. A diferença para o quarto classificado ultrapassou uma hora, sublinhando a superioridade técnica e estratégica da equipa ao longo da prova.

Com este desfecho, o W2RC encerra a temporada com novos campeões, surpresas e histórias de superação. Loeb reafirma-se como um dos grandes nomes da modalidade, Moraes entra para a história como o primeiro brasileiro campeão mundial na Ultimate, João Ferreira já não é uma promessa, mas uma certeza e Cavigliasso confirma o domínio sul-americano na Challenger. O Rallye du Maroc provou, mais uma vez, que no rally-raid, nada está decidido até à última duna.

Classificação final