Foi no restaurante Volver de Carne y Alma, em Lisboa, que Maria Luís Gameiro apresentou oficialmente a sua participação no Dakar 2026. A piloto portuguesa regressa à prova mais dura do mundo ao volante de um MINI JCW T1+ da equipa X-Raid, acompanhada pela navegadora espanhola Rosa Romero. O evento reuniu imprensa, patrocinadores e convidados, num ambiente intimista que marcou o arranque público de um projecto que combina ambição, pioneirismo e responsabilidade.

Depois da estreia em 2025, onde terminou em 26.º lugar na categoria Challenger, Maria Luís Gameiro volta ao deserto saudita com objectivos claros: melhorar o resultado e afirmar-se entre as quatro mulheres inscritas na categoria Ultimate.
“Estou muito feliz por regressar ao Dakar, prova pela qual me apaixonei na minha estreia. Ter a Rosa ao meu lado é uma mais-valia enorme, e o MINI JCW T1+ representa uma grande evolução”, afirmou durante a apresentação.
Na entrevista concedida á PressXL News/Revista Todo terreno após o evento, a piloto não escondeu a ansiedade:
“A expectativa de querer muito, muito, muito chegar até ao fim e de que alguma coisa fora do meu controlo não o permita… mas vou fazer tudo por tudo para conseguir.” Este misto de nervosismo e determinação traduz o espírito de quem encara o Dakar não apenas como competição, mas como experiência de superação pessoal.
Além da sua própria corrida, Maria Luís Gameiro terá uma responsabilidade adicional: transportar peças para apoiar os carros mais rápidos da X-Raid. “Vou levar umas peças para ajudar os carros mais rápidos do que eu. É também um desafio adicional, mas espero divertir-me pelo caminho. Somos mais leves, e isso ajuda.” Este papel reforça a confiança que a equipa deposita na piloto portuguesa, transformando-a em elemento estratégico dentro da estrutura.
O Dakar exige não apenas resistência mental, mas também preparação física e conhecimentos técnicos. “Este carro é mais rápido e mais exigente. Tivemos de aprender os básicos da mecânica para conseguir reparar o que for possível com as peças que vamos transportar.”
Durante 2025, Gameiro participou em provas de Rally-Raid em Marrocos e na Baja de Aragão. Apesar de um problema mecânico nesta última, considera que as corridas de cinco dias foram um primeiro ensaio para o Dakar. “Fisicamente, no ano passado estava muito bem preparada. Este ano tivemos de dar um ‘push up’ porque este carro exige mais. Também apostámos no treino de mecânica, porque nem eu nem a Rosa sabíamos nada. Tivemos de aprender o bê-á-bá para conseguir resolver o que for possível.”
Questionada sobre o que mais a assusta, Maria Luís Gameiro foi clara: “Partir a correia do motor é o que menos me assusta, mas é bastante desafiante. Um furo não considero avaria, faz parte da corrida. Uma avaria é partir peças mais complicadas de reparar.”
Recordou ainda a experiência na Baja de Aragon, onde enfrentou a quebra do tensor da correia do motor:
“Trocámos a correia, mas demorámos muito tempo. Para uma Baja, foi excessivo. No Dakar, o importante é não ficarmos no deserto.”

O carro magenta tornou-se imagem de marca da piloto. Apesar de inicialmente ter sido uma decisão ligada ao patrocinador Speed Rent, a cor acabou por ganhar força mediática.
“No início achei demasiado cliché, mas hoje já é uma imagem de marca. Os fotógrafos gostam e o público associa-me cada vez mais a essa cor.”
A cor acabou por se conjugar com o simbolismo de uma dupla 100% feminina, reforçando a mensagem de diversidade no desporto motorizado. “Não sou feminista radical. Acho que homens e mulheres têm o seu papel na sociedade. Mas naturalmente vamos lutar pelo céu feminino.”
Maria Luís Gameiro sublinha que não encara a sua presença como bandeira ideológica, mas como afirmação natural do talento feminino. “Nós mulheres somos fisicamente diferentes, há que aceitar isso com naturalidade. Eu e a Rosa vamos lutar pelo céu feminino, mas a melhor vitória será chegar ao fim e fechar a porta do carro com um sorriso.”
Em 2025, quebrou um jejum de 15 anos sem mulheres portuguesas no Dakar. Em 2026, reforça esse legado com uma dupla feminina que promete marcar presença.
A apresentação no Volver de Carne y Alma foi mais do que um evento oficial: foi um momento de afirmação de Maria Luís Gameiro como protagonista do automobilismo português. Entre ansiedade, preparação e responsabilidade, a piloto parte para o Dakar 2026 com a confiança de quem sabe que o verdadeiro triunfo não está apenas nos resultados, mas na capacidade de resistir, superar e inspirar.


