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Dakar 2026: A rota que volta a elevar o nível de exigência nos rally-raid

Desde 1979 que o Dakar se afirma como a derradeira prova de resistência motorizada, um desafio onde a velocidade pura é apenas uma parte da equação. A navegação, a fiabilidade mecânica e a capacidade de gerir o desgaste físico continuam a ser os pilares que definem quem chega ao fim. Em 2026, a prova mantém essa identidade sem concessões, com uma rota que arranca e termina em Yanbu, junto ao Mar Vermelho, e que atravessa alguns dos cenários mais icónicos e exigentes da Arábia Saudita.

Equipa de reconhecimento do percurso para o dakar 2026

O percurso inclui passagens por AlUla, com as suas formações rochosas e trilhos estreitos, pelas dunas profundas de Bisha, pelos vales de Wadi Ad-Dawasir e pelas zonas montanhosas e leitos secos de rios em Al Henakiyah. A diversidade de terrenos volta a ser um dos elementos centrais da edição, obrigando pilotos e navegadores a alternar entre navegação fina, secções rápidas e zonas de pedra onde a gestão do material é decisiva.

A edição de 2026 será composta por prólogo e 13 etapas, com apenas um dia de descanso em Riade, a 10 de janeiro. As distâncias diárias variam entre os 98 km do prólogo e os impressionantes 920 km da etapa 6, entre Hail e Riade — uma das ligações mais longas dos últimos anos. As especiais cronometradas também não deixam margem para descanso: várias ultrapassam os 400 km, com destaque para os 481 km da etapa 8, em Wadi Ad-Dawasir, que promete ser um dos momentos-chave da prova.

As etapas Marathon — a 7-8 e a 13-14 de Janeiro — voltam a ser pontos críticos. Sem assistência externa, os concorrentes dependem exclusivamente da sua capacidade de preservar o equipamento e resolver problemas mecânicos com os meios disponíveis. Estas etapas são tradicionalmente decisivas e, em 2026, surgem estrategicamente colocadas para testar a resistência das equipas tanto na primeira metade como na fase final do rally.

A dureza do percurso não passou despercebida aos principais protagonistas. Nasser Al-Attiyah, múltiplo vencedor do Dakar, sublinhou recentemente a importância da navegação nesta edição: “Cada Dakar é uma história nova. Podemos ter experiência, podemos ter títulos, mas o deserto não respeita currículos. Em 2026, a navegação vai ser brutal — e isso entusiasma-me.” Carlos Sainz, também ele vencedor em várias categorias e equipas, reforçou a exigência do traçado: “Olho para o mapa e vejo etapas longas, especiais duras e duas maratonas. Isto é o Dakar como deve ser. A gestão mecânica vai ser tão importante como a velocidade.”

A presença portuguesa no Dakar 2026 volta a ser significativa, com três nomes a destacar-se pela consistência e ambição no rally-raid internacional. João Ferreira, campeão europeu de Bajas e uma das maiores promessas nacionais da disciplina, regressa à Arábia Saudita com o objectivo de consolidar o seu estatuto entre a elite do W2RC. Gonçalo Guerreiro, que tem vindo a construir um percurso sólido nos SSV, alcançando este ano o título de campeão nacional de Todo-Terreno , procura transformar a experiência acumulada nas últimas temporadas numa classificação de referência num Dakar cada vez mais técnico. Já Alexandre Pinto, presença regular nas competições internacionais de rally-raid e actual campeão do mundo da categoria SSV, tal como o seu navegador Bernardo Oliveira, volta a apostar na fiabilidade e na navegação para alcançar um resultado que reflicta a evolução demonstrada ao longo do último ano. A participação destes três pilotos reforça a tradição portuguesa na prova e mantém viva a ligação histórica entre Portugal e o Dakar.

A organização tem mantido o foco na segurança e na integridade desportiva, continuando a implementar zonas de velocidade controlada, penalizações automáticas para excessos e roadbooks digitais que procuram equilibrar a navegação com a segurança. Ainda assim, o Dakar permanece uma prova onde a imprevisibilidade é regra e onde cada erro pode custar minutos preciosos — ou comprometer toda a corrida.

O Dakar 2026 volta também a abrir a temporada do FIA World Rally-Raid Championship (W2RC), que seguirá depois para Portugal (12 a 22 de março), Argentina (24 a 29 de maio), Marrocos (28 de setembro a 3 de outubro) e Abu Dhabi (22 a 27 de novembro). Para muitos pilotos e equipas, o desempenho na Arábia Saudita define o ritmo competitivo e psicológico para o resto do ano, tornando o Dakar não apenas uma prova isolada, mas o ponto de partida estratégico para toda a temporada.

No final, o Dakar continua a ser aquilo que sempre foi: uma travessia física e emocional, uma prova onde a linha entre o sucesso e o fracasso é tão fina quanto a areia que se infiltra em cada componente das máquinas. Em 2026, o deserto volta a chamar — e, como sempre, só os mais consistentes ouvirão o eco da chegada em Yanbu.

AL RAJHI Yazeed (sau), Toyota, Overdrive Racing, vencedor da edição de 2025 nos carros