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A etapa que faz a entrada em espanha do BP Ultimate Rally Raid Portugal (W2RC) ficou marcada por uma das jornadas mais memoráveis da história da competição, com a consagração de João Ferreira (Toyota Gazoo Racing) na liderança, a par de uma tripla vitória portuguesa inédita nas diversas categorias FIA. O feito não só reforça o estatuto de Ferreira como um dos grandes pilotos da atualidade, mas também inscreve Portugal no mapa dos protagonistas do rally-raid internacional.
João Ferreira domina e entra Espanha pela porta grande
João Ferreira entrou em território espanhol na liderança da corrida, mantendo-se firme perante a forte concorrência e as dificuldades do terreno. A etapa foi intensa e equilibrada, com o mítico Carlos Sainz (“El Matador”, Ford M-Sport) a terminar apenas um minuto e três segundos atrás do português, num duelo que manteve a emoção até ao fim. Saood Variawa, jovem promessa sul-africana, ficou a 2’13’’ do líder, seguido por Seth Quintero (+3’05’’) e Lucas Moraes (+3’47’’), todos ao volante dos Toyota Gazoo Racing W2RC, confirmando o domínio da marca japonesa.
Henk Lategan (Toyota Gazoo Racing W2RC), que havia vencido a etapa anterior e partiu na frente, não conseguiu manter o ritmo e terminou em oitavo (+7’19’’), perdendo a liderança geral para Ferreira. Variawa ocupa agora o segundo lugar da classificação (+3’24’’), enquanto Moraes fecha o pódio da Hilux (+3’46’’). Sainz voltou à luta pelo título, apenas sete segundos à frente de Lategan, que caiu para a quinta posição. Com posições intermédias, tanto Sainz como Lategan poderão beneficiar do arranque a meio do pelotão para atacar a vitória na próxima jornada.
Resistência, estratégia e espírito de equipa
No final da etapa, João Ferreira partilhou a sua satisfação e destacou os desafios enfrentados: “A etapa foi boa. Difícil, muito pó, mas correu bem. Portugal foi espetacular; depois, ao entrarmos em Espanha, ficou super, super poeirento e a navegação também se tornou complicada, o road book parece que mudou um pouco. Mas foi um dia positivo para nós e para toda a equipa: primeiro, terceiro e quinto. Estou a liderar a corrida e temos o segundo da geral, portanto, esperemos que termine assim.”
Saood Variawa, terceiro classificado, sublinhou o grau de dificuldade e elogiou o desempenho da equipa: “Não podia pedir melhores primeiros dois dias. Foi bastante desafiante, especialmente para mim, que tive problemas de travões durante toda a etapa — tive que gerir, especialmente nas montanhas, foi realmente difícil. Mas, apesar disso, estou satisfeito. Parabéns ao João e ao Filipe, assim como ao meu co-piloto — grande performance de toda a equipa.”
Incidentes marcantes: Loeb, Al Attiyah e as dificuldades da Dacia
A etapa foi também palco de adversidades para nomes grandes do rally-raid. Sébastien Loeb viu-se obrigado a parar ao quilómetro 57 devido à quebra de um triângulo de suspensão. Cristina Gutiérrez, que seguia perto, não hesitou em parar para ajudar o francês, mas Loeb perdeu mais de dez minutos nesta paragem forçada, acabando em 17.º lugar a 14:04 de João Ferreira.
Nasser Al Attiyah, igualmente da Dacia, enfrentou problemas ao quilómetro 200, onde esteve parado pelo menos oito minutos após uma ligeira saída de estrada — o segundo incidente do dia para a equipa, depois do percalço de Loeb. Al Attiyah terminou em 16.º lugar (+13:55), descrevendo a etapa como exigente: “O início foi bom, mas ficámos atrás do Jacopini com muito pó, e não foi fácil ultrapassar. Ficámos presos numa curva por 13-14 minutos, mas tentámos gerir e continuar sem riscos. Estamos felizes por estar aqui.”
Cristina Gutiérrez, que prestou auxílio a Loeb, também viu a sua classificação prejudicada, terminando em 21.ª posição. A jornada revelou-se, sem dúvida, desastrosa para a equipa Dacia, que saiu da etapa espanhola com resultados aquém das expectativas.
Desistência e reviravolta: Yazeed Al Rajhi fora da luta
Outro dos protagonistas, Yazeed Al Rajhi, vice-campeão mundial e vencedor do Dakar 2025, teve de abandonar a especial devido a uma avaria mecânica. O piloto saudita seguia em oitavo na etapa e ocupava a sexta posição geral pela manhã, mas viu a sua corrida terminar prematuramente, reforçando o carácter imprevisível da competição.
Impacto histórico: primeira vitória Ultimate portuguesa e tripla consagração nacional
A vitória de João Ferreira em Badajoz representa muito mais do que uma liderança provisória. Aos 26 anos, o piloto português alcançou o seu primeiro triunfo na categoria Ultimate, tornando-se o primeiro luso a conquistar este feito. Soma agora 17 vitórias no W2RC (13 em SSV, 3 em Challenger e 1 Ultimate), entrando no seleto grupo de pilotos que venceram nas três principais categorias do campeonato, juntando-se a Rokas Baciuška e Eryk Goczał.
Mas o dia foi ainda mais especial para Portugal. Gonçalo Guerreiro (Challenger) e João Dias (SSV) também venceram nas respetivas categorias, concretizando uma tripla vitória portuguesa inédita numa etapa FIA do W2RC. Nunca antes se tinha registado tal domínio nacional, escrevendo uma nova página na história do automobilismo português.
Conclusão: Portugal no topo do rally-raid mundial
A etapa espanhola do W2RC ficará para sempre marcada pela excelência da armada lusa, pela superação dos seus pilotos e pelo espírito de equipa. João Ferreira não só reforçou o seu estatuto como líder, como também abriu a porta a futuras conquistas para Portugal, que mostrou ao mundo a força e qualidade dos seus pilotos. Num dia de desafios e conquistas, o rally-raid ganhou novos heróis e o desporto automóvel português celebra hoje um dos seus maiores feitos. O campeonato segue em aberto, com a expectativa redobrada para as próximas etapas e a certeza de que Portugal é, cada vez mais, protagonista no cenário internacional.
Classificação após a 2ª etapa Autos
1º João Ferreira (Toyota Hilux T1+ Evo), com 5h.35,04 (1º português)
2º Saood Variawa (Toyota Hilux T1+ Evo), a 3m.24
3º Lucas Moraes (Toyota Hilux T1+ Evo), a 3m.46
4º Carlos Sainz (Ford Raptor T1+), a 5m.20
5º Henk Lategan (Toyota Hilux T1+ Evo), a 5m.27
A terceira etapa tem partida e chegada a Badajoz, numa extensão de 511 km. Os pilotos têm pela frente um setor seletivo de 308 km bastante espetacular, muito rápido e com bom piso, onde vão encontrar areia, ao melhor estilo dos rally-raids disputados em outros continentes. No final do dia, o público pode visitar o bivouac de Badajoz, entre as 18 e as 23 horas (hora espanhola).
