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Milagres, bloqueios e glória: um Rally Fim d’Ano decidido ao segundo

O Rally Fim d’Ano da Figueira da Foz voltou a oferecer um enredo digno de cinema, com vitórias decididas na derradeira classificativa, bloqueios inesperados na Serra da Boa Viagem e emoções ao rubro tanto na categoria Turística como na Desportiva. Entre episódios quase “tirados a papel químico”, triunfos caídos do céu e azares difíceis de digerir, a edição deste ano confirmou a prova organizada pelo Clube de Automóveis Antigos da Figueira da Foz — e promovida pelo Clube Automóvel do Centro — como uma das mais imprevisíveis e vibrantes do calendário.

Na categoria Turística, o grande vencedor foi Sandro Pinto, ao volante de um BMW E36 318 IS, navegado por Sílvia Ferreira. A dupla beneficiou de um episódio insólito na última classificativa, quando Pedro Mariano e Daniel Jordão, que seguiam rumo à vitória com o seu Porsche 912, foram literalmente barrados por uma viatura em passeio na Serra da Boa Viagem. O incidente, que fez a dupla figueirense perder tempo precioso, ecoou o que viria a acontecer também na categoria Desportiva.

Pedro Mariano, dirigente da FMP e da FIM, natural da Figueira da Foz, vinha a rubricar uma prestação notável. Contudo, a “prova de fogo” final acabou por travar o seu ímpeto. Navegado por Daniel Jordão — que dentro de dias parte para o Rali Dakar 2026, onde enfrentará mais de oito mil quilómetros, 4901 deles ao cronómetro, em Polaris com João Dias — viu a vitória escapar-lhe por entre os dedos. Ainda assim, garantiu o segundo lugar, com 1.473 pontos, contra os 1.435 de Sandro Pinto.

O pódio ficou completo com uma história de perseverança: Luís Castro Caseiro, advogado de Coimbra de 73 anos, acompanhado pelo filho, também advogado, levou o seu Mazda MX‑5 ao terceiro lugar, somando 4.001 pontos e celebrando, com visível satisfação, a sua primeira subida ao pódio. À porta do top‑3 ficaram Carlos Oliveira e João Neto (BMW 320i), com 4.650 pontos, e logo depois Tiago Carvalho e João Pereira, em Porsche Boxster, com 5.370 pontos. No total, mais oito equipas concluíram a competição Turística, contribuindo para o sucesso da prova.

Se na Turística o desfecho foi dramático, na categoria Desportiva o cenário não foi menos surpreendente. Marcos Rodriguez Martin e Sonia Vazquez Moron, em Nissan 100 NX, conquistaram a sua quarta vitória no Rally Fim d’Ano — e, tal como na Turística, graças a um bloqueio inesperado na Serra da Boa Viagem. A dupla espanhola, que completou a prova com 294 pontos, viu a vitória “cair do céu”, como descreveu o próprio texto oficial, quando Armando Monteiro e Tiago Caio, líderes destacados, foram impedidos de prosseguir devido a um Audi em passeio que lhes bloqueou a passagem durante 42 segundos.

Para Monteiro e Caio, em BMW 2002, foi um déjà‑vu amargo: no ano anterior, também na Serra da Boa Viagem, tinham perdido posições na fase final. Desta vez, apesar da frustração, garantiram o segundo lugar com 309 pontos. A manhã de sábado tinha sido particularmente favorável à dupla, que chegou a “roubar” a liderança a João Botequilha e Magda Ferreira (Toyota Corolla GTI 16V), mas o “filme de horror” final voltou a trocar-lhes as voltas.

O terceiro lugar foi novamente para Bruno Pádua e Francisca “Kika” Simões, em Skoda Favorit, repetindo o resultado do ano anterior com 350 pontos. Seguiram-se Jorge Buco e José Carlos Figueiredo (Ford Escort MK1), com 394 pontos, e Rogério Silva e Tiago Miguel e Silva (Renault 5), com 772 pontos, a fechar o “top five”.

A classificação prosseguiu com Miguel Fernandes e Rui Martins (Toyota Corolla GTI), que resistiram à pressão de Botequilha e Ferreira e terminaram com 935 pontos, deixando a formação lisboeta em sétimo, com 940. O top‑10 encerrou com Edgar e Filipa Guerra (Alfa Romeo Giulietta), António Liberato e Nuno Fonseca (Fiat 600) e os espanhóis Jose Corsino e Miguel Angel (Mazda 323).

Com temperaturas amenas, público entusiasmado e um ambiente competitivo elevado, a edição deste ano do Rally Fim d’Ano confirmou-se como um palco de emoções fortes, onde a estratégia, a perícia e, por vezes, o acaso desempenharam papéis decisivos. Entre “milagres”, bloqueios inesperados e vitórias arrancadas ao último segundo, a Serra da Boa Viagem voltou a ser o cenário onde tudo pode acontecer — e onde, mais uma vez, aconteceu.