A segunda edição da Baja T.T. Norte de Portugal aqueceu o Campeonato de Portugal de Todo Terreno AM|48 com uma corrida ainda mais disputada que as duas anteriores. Por momentos, pareceu que finalmente ia repetir-se a proeza de Alexandre Ré e Francisco Esperto, mas uma vitória absoluta de um T3 permanece inédita desta dupla, porque depois de Alexandre Pinto e Gonçalo Magalhães terem sido os primeiros comandantes, logo depois batidos por João Dias e João Miranda, os CanAm T3 de uns e outros acabaram por ser ultrapassados de forma categórica por uma pick-up mais “convencional”: a nova Toyota Hilux DKR de Tiago Reis e Valter Cardoso, que conquistaram a segunda vitória consecutiva!
Deslocando-se significativamente para cenários ainda mais a norte de Portugal, a prova organizada pelo CAMI renovou todo o percurso para esta segunda edição, procurando traçados mais interessantes e equilibrados para todas as viaturas. Este ano baseada em Valpaços, a Baja T.T. Norte de Portugal voltou a visitar Murça na segunda jornada, mas na terceira rumou a Macedo de Cavaleiros. Contas “redondas”, deviam ter sido cerca de três centenas de quilómetros a cumprir em contra relógio, divididos por um prólogo no dia de abertura – preenchendo a sexta-feira à tarde – e um longo sector selectivo a preencher as horas mais quentes do sábado, para finalizar com outros dois troços até ao princípio da tarde de domingo, quase repetindo a distância anterior.
“Passei três meses a percorrer caminhos por estas terras transmontanas, a ver todas as hipóteses e mais algumas para desenhar um bom itinerário para esta prova”, contou-nos José Rodrigues, o carismático “piloto de Murça”, como sempre foi conhecido ao longo de uma carreira de décadas, sempre ligado à Toyota. Suporte fundamental para esta organização do CAMI, pelos seus conhecimentos locais e inesgotável entusiasmo, José Rodrigues desenvolveu um trabalho que não agradou a todos, mas basta observar o modo como a corrida se desenvolveu para constatarmos que foi equilibrado. E se todos esperavam por um traçado favorável para os ‘Side-by-Side” dos grupos T3 e T4 e castigador para os veículos maiores, nomeadamente as pick-up’s do Grupo T1, o certo é que os resultados contrariaram totalmente esta teoria. O que só reforça a ideia de que foi uma corrida equilibrada, por um percurso novo e competitivo, em que todos tiveram boas oportunidades de brilhar.
Cada um dos três dias de prova teve líderes distintos e todos eles cumpriram a corrida até ao último metro, numa discussão acesa em que se incluiu um quarto protagonista. Primeiros comandantes, a dupla Alexandre Pinto e Gonçalo Magalhães acabou por chegar ao controlo final, em Valpaços, já na quarta posição, atrás da Toyota Hilux DKR de João Ramos e Pedro Ré – os primeiros vencedores desta temporada – e atrás do CanAm de João Dias e João Miranda, que estiveram na frente durante o segundo dia. Já no terceiro dia, ninguém conseguiu resistir ao forte andamento imposto pela Toyota Hilux DKR de Tiago Reis e Valter Cardoso: foram os mais rápidos nos dois últimos sectores selectivos e a vantagem final de um minuto e 44,3 segundos não deixa dúvidas quanto ao mérito deste triunfo, o segundo seguido!
Enquanto no primeiro e no segundo dos três dias desta Baja T.T. Norte de Portugal a primazia sustentou-se por diferenças tão escassas que os dedos das mãos chegavam para contar os segundos que separaram o comandante do seu mais próximo adversário, ao terceiro dia tudo mudou e as diferenças tornaram-se substanciais.
Três dias de prova e três lideres distintos
O prólogo, disputado num troço estreito e – sobretudo – bastante escorregadio, desenhado quase à vista da vila de Valpaços, deixou na frente o CanAm de Alexandre Pinto e Gonçalo Magalhães, que se destacou por somente quatro segundos. Já após o sector selectivo de abertura, a primeira posição passou a ser ocupada por João Dias e João Miranda, que se adiantaram a todos por apenas uma dezena de segundos. Assinale-se, contudo, que um problema informático fez perder as penalizações registadas nos 30 quilómetros finais do sector selectivo de sábado, o que levou o Colégio de Comissários Desportivos a considerar os resultados até ao controlo em que todos os tempos de passagem e eventuais penalizações ficaram devidamente registadas. E ficaram mesmo, porque Lourenço Rosa e Joaquim Dias tinham conseguido colocar a Toyota Hilux DKR na quinta posição até receberem uma penalização de 15 minutos, motivada por um engano no percurso, que esta dupla resolveu fazendo um ‘corta-mato’ para retomarem a pista correcta, ao invés de voltarem atrás até ao ponto onde se perderam. Caindo para lá dos 20 primeiros classificados, Lourenço Rosa decidiu não se apresentar à partida para a etapa final, no domingo, privando adversários e público de uma equipa que garantia oferecer boa luta e melhor espectáculo!
E no domingo, logo pela manhã, Tiago Reis e Valter Cardoso “abriram o livro” e que boa leitura ofereceram: de uma assentada ganharam um minuto e 26 segundos quer à Toyota Hilux DKR de João Ramos e Pedro Ré, quer ainda ao CanAm de João Dias e João Miranda, que à partida lideravam por nove segundos de vantagem, mas depois deste troço desceram ao segundo lugar, por um minuto e 16,7 segundos de atraso. João Ramos, por seu vez, também ultrapassou o CanAm de Alexandre Pinto, ascendendo ao terceiro posto, com dois minutos e 26,9 segundos de atraso face aos novos comandantes, o que não lhe oferecia grandes perspectivas de recuperar ainda mais, depois de “um prólogo anormal”, como reconheceu o próprio piloto, que adiantou “ter sido, talvez, o pior prólogo em três décadas de corridas”, justificando que “era estreito, por vezes mesmo à conta das dimensões da nossa Toyota T1+, além de ter um piso bastante escorregadio, o que me deixou assustado e conduzi com mais do dobro das cautelas, porque tínhamos consciência que ao menor deslize a nossa prova podia acabar ainda antes de começar”. Esta estratégia defensiva colocou João Ramos num lugar a que não estava habituado nem nos primeiros tempos vividos nas corridas: foi 12º no prólogo, mas terminou o segundo dia já em quarto, “apesar de ter sido prejudicado pelo cancelamento da parte final do sector selectivo, pois vínhamos a ser os mais rápidos”.
Curiosamente, muito embora João Ramos e Pedro Ré estivessem empenhados em discutir a vitória, não hesitaram em parar para ajudar a colocar sobre as rodas o Yamaha X-Raid de João Ferreira e Filipe Palmeiro, que encontraram tomado sobre o lado direito, já na fase final do primeiro sector selectivo. O tempo que os homens da Toyota perderam com isso foi reposto pela organização, assegurando que a sua acção nos os prejudicaria, embora a anulação dessa mesma parte do troço tivesse igualmente contribuído para que essa paragem não influísse na classificação. Seja como for, Ramos não desistiu de reclamar que esse encurtamento do troço os impediu de ir mais além na impressionante recuperação que empreenderam.
Mas o maior prejudicado com o cancelamento da parte final do primeiro sector selectivo foi mesmo a dupla Nuno Tordo/Filipe Salgueiro, que discutiam a liderança do grupo T8 e teriam ultrapassado o Opel Mokka de Nuno Matos e Ricardo Claro, que sofreram um furo quase no final, que os fez perder imensos minutos que, afinal, não foram contabilizados.
Domingo, depois de vencer por uma margem generosa o segundo sector selectivo, Tiago Reis ainda venceu o derradeiro troço, mas batendo agora João Ramos por apenas 3,9 segundos, “muito menos do que perdi devido a um engano no percurso”, contou-nos este piloto, dizendo que “lutei para pelo menos ganhar o ponto adicional da vitória no sector, pois para me manter na discussão pelo título, todos os pontos contam!”
Reis e Cardoso à frente do campeonato
Tiago Reis e Valter Cardoso reforçaram sobremaneira a liderança do Campeonato de Portugal de Todo Terreno AM|48, passando a contar com duas vitórias absolutas e um segundo lugar. No entanto, convém sublinhar que volvidas várias semanas sobre a realização da Baja Dehesa Extremadura, os resultados da prova espanhola continuam por confirmar; daí que enquanto isso não acontecer, Tiago Reis e Valter Cardoso lideram o campeonato português por somente dois pontos de vantagem sobre João Ramos e Pedro Ré. Já João Dias/João Miranda e João Ramos/Pedro Ré, ao completarem o pódio na Baja T.T. Norte de Portugal continuam perfeitamente na luta pelo campeonato, quando ainda temos pela frente mais quatro provas. Alexandre Pinto e Gonçalo Magalhães acabaram por distanciar-se dos primeiros, conformando-se com o quarto posto final, por uma diferença de seis minutos 28,3 segundos relativamente aos vencedores. E logo a seguir, os quintos classificados, Marco Cardoso/André Barras, também num CamAm do grupo T3, ficaram já a mais de um quarto de hora dos primeiros e só não foram alcançados pelo CanAm de Armindo Araújo e Luís Ramalho por menos de meio minuto: 29,1 segundos. O Campeão Nacional de Ralis perdeu mais de três minutos no prólogo e fez a corrida toda a recuperar, numa escalada que terminou com o sexto posto, mas sem nunca ter conseguido ser o mais rápido em qualquer sector selectivo, a verdade é que Armindo Araújo voltou a marcar importantes pontos para o campeonato…
Melhorando 11 posições desde o prólogo ao final da prova, Bruno Oliveira e Paulo Marques começaram por ocupar a 18ª posição, mas após o primeiro sector selectivo já tinham levado a Ford Ranger V6 até ao 11º posto, para no domingo ascenderem facilmente até ao sétimo lugar absoluto. E dizemos facilmente porque, na realidade, esta progressão final ficou a dever-se ao abandono do Yamaha de João Ferreira e Filipe Palmeiro, que eram quintos absolutos quando partiram a caixa de velocidades, no decurso do segundo sector selectivo, mas também o abandono do Mini John Cooper Works Rally de Alejandro Martins/José Marques, que à partida da etapa final fechavam o “top ten” e que este ano não estão a ter um campeonato positivo…
A última “borla” oferecida a Bruno Oliveira foi o atraso de Hélder Oliveira/Carlos Jorge Mendes, a quem uma saída de estrada custou uma dezena de posições, descendo de sétimos para um modesto 17º lugar. A dupla Filipe Cameirinha/Jérémy Dubois colocou o seu CanAm logo atrás da Ford Ranger de Bruno Oliveira por uma diferença de 44,2 segundos, mas já contando com uma penalização de 10 minutos e sem isso, a classificação desta equipa teria sido duas posições acima, mas o certo é que desde o final do primeiro sector selectivo que ocupavam o oitavo lugar. Já Rui Farinha/Rui Pita, subiram do 27º para o nono lugar final, cabendo-lhes ainda a vitória no grupo T4, à frente de Paulo Rodrigues/Miguel Salvador, que tinham sido líderes no prólogo, e de Rui e Bernardo Oliveira, que por sua vez tinham subido à liderança no primeiro sector selectivo, perdendo esta posição após o segundo sector selectivo, para já no último descerem ao terceiro lugar, por 33,2 segundos de diferença.
Vencedores incontestados do grupo T8, Nuno Matos e Ricardo Claro aliaram esta vitória à décima posição absoluta. A dupla de Portalegre ainda travou um duelo pela primazia do grupo T8 entre o seu Opel Mokka e a Nissan Pick-up V6 de Nuno Tordo e Filipe Salgueiro, mas se estes começaram por ser os mais rápidos, depois não conseguiram manter esse ritmo e uma penalização de 10 minutos ainda os empurrou mais para baixo na classificação: à chegada, ficaram em 15º da classificação geral e garantiram a segunda posição do grupo T8 por um atraso de sete minutos e 51,6 segundos relativamente a Nuno Matos. Vencedor do campeonato T8 no ano passado, Nuno Tordo conseguiu com este segundo lugar marcar precioso pontos para reforçar as chances de renovar o título. Considerando apenas as pontuações da primeira e da terceira provas deste campeonato, Tordo está na liderança do grupo T8 por 16 pontos de vantagem sobre Michael Braun e 17 sobre Nuno Matos. Mas, recordamos, as contas do campeonato podem alterar-se quando soubermos os resultados da segunda prova…
Barreiros e Torres dominaram grupo T2
Quanto ao grupo T2, se no prólogo a liderança foi assumida pela Nissan Pick-up de João Lourenço e Nuno Sousa, por uma vantagem mínima, de apenas um segundo e meio, sobre a Isuzu D-Max de Fernando Barreiros e Paulo Torres, daí em diante foram estes últimos que assumiram a primazia. Após o primeiro sector selectivo a Isuzu de Barreiros já estava na frente por quase quatro minutos e meio de vantagem sobre o Mitsubishi Pajero de Pedro Simões e Miguel Paião.
Nos dois sectores selectivos de domingo, a Nissan de João Lourenço foi sempre mais rápida, mas nem assim conseguiu recuperar a liderança, pois Fernando Barreiros não necessitou senão de controlar o andamento dos seus adversários para gerir a vantagem que dispunha e vencer por quase quatro minutos de avanço. Assinale-se que esta foi a segunda vitória consecutiva da Isuzu de Fernando Barreiros e Paulo Torres, em duas provas disputadas e se a anterior lhes permitiu colocarem-se à frente do grupo T2 na Taça da Europa FIA de Bajas e da Taça Ibérica de T.T., com o sucesso na Baja T.T. Norte de Portugal reforçaram a liderança absoluta desta taça, consolidando os seus objectivos para esta temporada! De toda a maneira, João Lourenço não saiu a perder, pois reforçou, tal como o seu navegador, a liderança do campeonato português, em termos de grupo T2.
Texto: Alexandre Correia Fotos: AIFA/Jorge Cunha e A.C.
